domingo, 1 de abril de 2012

MULHER E A VIOLÊNCIA

Desde a Idade Média a sociedade adotou um modelo patriarcal e machista que se intensificou com o passar dos anos. Apesar da conquista de direitos, o cotidiano feminino tem sido marcado pelo desrespeito. De fato pouco se avançou, a mulher ainda é vista como inferior ou incapaz por isso não faz jus aos direitos masculinos, visão essa não verbalizada por ser politicamente incorreta mas ainda amplamente compartilhada, e aquelas que se sobressaem apesar de todos os obstáculos enfrentados são vítimas de comentários sarcásticos e até difamatórios.
Há séculos a mulher é vista como instrumento destinado a proporcionar prazer ao homem e gerar seus filhos e seu bem estar. Atualmente a erotização rotineira leva a uma coisificação da mulher e uma visão deturpada sobre a sexualidade. O status da mulher enquanto objeto leva a vários tipos de violência como agressões, homicídios, estupros, desrespeito. As estatísticas elevadas são interpretadas como maior coragem das denunciantes, fato esse verídico, contudo como afirmar se estamos ou não numa curva ascendente quanto a violência se não temos como comparar.
Sem qualquer juízo de valor nas questões culturais ou religiosas associadas, evidencia-se a necessidade da luta por dignidade e de direitos da mulher enquanto ser humano. De nada vale um dia internacional se as mulheres ainda são vítimas dos mais absurdos e abomináveis atos diariamente. Como exemplo, podemos citar alguns casos como das meninas africanas que tem o clitóris extirpado sem anestesia ou cuidados com assepsia, para que essas não possuam o direito ao prazer sexual, tal prática pode causar seqüelas ou até mesmo a morte. No Marrocos, a mulher estuprada tem que se casar com seu estuprador para que recupere sua honra e volte a ser aceita pela sociedade mesmo que continue a sofrer abusos. A palavra honra tem sentido ligado ao gênero uma vez que o significado é diferente conforme o sexo. Já o caso julgado recentemente pelo Superior  Tribunal, em que o maior acusado de abuso sexual a meninas de 12 anos foi absolvido, reflete o pensamento vigente que é culpar a vítima. Culpar por ter sido induzida a prostituição, ao abandono e á pobreza. E também a validação á impunidade ou até mesmo a certificação moral do delito.
A mulher que sofre abuso muitas vezes é julgada pelas autoridades, outras mulheres e pela sociedade de forma mais rigorosa que seu agressor, na procura de fatores que possam transferir a culpa do delito á vítima.
O sexo de maiores de idade com menores não é apenas uma questão moral, mas sim uma violação anatômica, fisiológica e psicológica, pois o organismo feminino só está completamente formado aos 18 anos de idade. A desproporção física entre os autores pode causar seqüelas definitivas nessas meninas. Outro dado é que 60% das mulheres nunca experimentaram um orgasmo durante a vida, seria leviano afirmar então que as mulheres se submetem a algumas situações por vontade e não por necessidade financeira, aceitação e segurança.
A violência sexual em qualquer idade independente do sexo da vítima é uma aterradora violação á liberdade física, psicológica e moral do  indivíduo. O sexo deveria ser uma prática natural aliada ao respeito ás condições orgânicas. Já a sociedade não deveria ser nem matriarcal ou patriarcal, mas igualitária.

VIOLÊNCIA E MODERNIDADE

A sociedade mundial anda sobressaltada pela torrente de crises econômicas, deficiências educacionais e de assistência a saúde.  A intolerância  aos mais ínfimos obstáculos diários propicia uma violência crescente que se reflete em mortes por motivos cada vez mais fúteis, pela violência doméstica, pela violência gratuita e sádica, pelo trânsito assassino.
A sociedade cada vez mais egoísta e mais individualista prioriza o material, numa avidez constante e mórbida. Não se pensa mais no coletivo, no bem estar global, apenas o desejo desenfreado de ter mais a qualquer custo, como se nosso semelhante fosse um inimigo a ser abatido e não alguém que tem sonhos e dores como todos os outros.
Os psicopatas têm ausência de afetividade, mas a nossa sociedade não tem um comportamento semelhante?
Quando nos defrontamos com a dor alheia mudamos de canal, de calçada, numa alienação confortável. A incompreensão, a desestrutura familiar, ausência de valores morais básicos e essenciais não se restringe a classes sociais. É como um vírus extremamente democrático  que leva a uma neurose coletiva e conseqüentemente ao aumento vertiginoso da violência.
O maior número de mortes é de jovens de periferia, contudo temos as vítimas que sobrevivem num eterno pesadelo rodeado de medo e insegurança. Nessa histeria coletiva somos todos reféns.
Até que ponto teremos que ir até que se reflita e façamos mudanças dentro de cada um de nós e em todo ramo de atividade ?

sábado, 11 de fevereiro de 2012

VITIMA OU CULPADO?

VITIMA OU CULPADO?
A Vitimologia passa a definir o papel da vítima na dinâmica do fato. O interessante é que apesar de na maioria das vezes o papel da vítima ser passiva ou instintiva, a mídia julga esse comportamento na maioria das vezes tanto ou mais relevante que o comportamento do réu. É como se a vítima fosse responsável por todo o mal sofrido, como se o desfecho do ato delituoso fosse uma decisão e responsabilidade unilateral da vítima. Uma absoluta inversão de valores, claro que com raríssimas ressalvas. Na maioria dos delitos a vítima é surpreendida ou sob ação de forte emoção. Ou seja, nas duas hipóteses aventadas há um ponto fundamental comum: o estresse.
O estresse não é apenas um estado emocional, mas sim um quadro complexo de manifestações físicas com duração indeterminada. A reação ao estresse pode se traduzir em fuga, imobilidade ou reação de defesa, por ser um instinto primitivo, o prever qual a reação a tomar uma decisão é uma incógnita, já que ações instintivas não são racionais.
É comum ouvirmos que não se deve reagir, isso é um conselho vago. Vemos com freqüência atribuir-se causas para a violência nos delitos que já são por si só uma ofensa à dignidade, liberdade e os outros tantos direitos, que foi causada por algo que a vítima disse, por olhar para o agressor ou simplesmente pelo susto com a surpresa da situação. O aumento da banalização da violência desnecessária para o objetivo inicial do delito, denota a maldade pela maldade, o prazer de praticar o mal injustificável.
É muito fácil afirmar de que forma reagiríamos a essa ou outra situação, quando essa discussão se dá na mais plena segurança e bem estar, contudo poucos podem sequer imaginar o que o estresse pode lhe reservar.
Em parte o conselho de não reagir é válido, não devemos encorajar ações tresloucadas, mas não podemos continuar a julgar que a vítima é culpada por ser humana e ter instintos animais que só são relevantes na manutenção da espécie.