VITIMA OU CULPADO?
A Vitimologia passa a definir o papel da vítima na dinâmica do fato. O interessante é que apesar de na maioria das vezes o papel da vítima ser passiva ou instintiva, a mídia julga esse comportamento na maioria das vezes tanto ou mais relevante que o comportamento do réu. É como se a vítima fosse responsável por todo o mal sofrido, como se o desfecho do ato delituoso fosse uma decisão e responsabilidade unilateral da vítima. Uma absoluta inversão de valores, claro que com raríssimas ressalvas. Na maioria dos delitos a vítima é surpreendida ou sob ação de forte emoção. Ou seja, nas duas hipóteses aventadas há um ponto fundamental comum: o estresse.
O estresse não é apenas um estado emocional, mas sim um quadro complexo de manifestações físicas com duração indeterminada. A reação ao estresse pode se traduzir em fuga, imobilidade ou reação de defesa, por ser um instinto primitivo, o prever qual a reação a tomar uma decisão é uma incógnita, já que ações instintivas não são racionais.
É comum ouvirmos que não se deve reagir, isso é um conselho vago. Vemos com freqüência atribuir-se causas para a violência nos delitos que já são por si só uma ofensa à dignidade, liberdade e os outros tantos direitos, que foi causada por algo que a vítima disse, por olhar para o agressor ou simplesmente pelo susto com a surpresa da situação. O aumento da banalização da violência desnecessária para o objetivo inicial do delito, denota a maldade pela maldade, o prazer de praticar o mal injustificável.
É muito fácil afirmar de que forma reagiríamos a essa ou outra situação, quando essa discussão se dá na mais plena segurança e bem estar, contudo poucos podem sequer imaginar o que o estresse pode lhe reservar.
Em parte o conselho de não reagir é válido, não devemos encorajar ações tresloucadas, mas não podemos continuar a julgar que a vítima é culpada por ser humana e ter instintos animais que só são relevantes na manutenção da espécie.